Arquivo para janeiro \28\America/Sao_Paulo 2013

Janeiro, para mim, virou o monte Everest

um sol quente, que pela manhã

tenta aplacar quilômetros de gelo e solidão

tudo vazio aqui, tudo queimando

temperaturas abaixo de zero

lágrimas em cubos

– pequenas distâncias são brutais

quando nos falta o oxigênio –

minha alma longe

tudo o que entreguei

enterrado sob a neve

tudo muito igual ali

língua, coração, palma da mão

e até os pequenos lóbulos das orelhas

tudo uma coisa só sem importância

aqui o ar é rarefeito

dói um bocado respirar

é a vida não cabendo dentro mim.

blindagem barata

tenho uma caixa feita de ossos
para evitar desvarios
de qualquer músculo burro
ou tive, sei lá
o tal músculo bateu
inchou, murchou
deu umas cambalhotas
explodiu e se recompôs
é assim, o canalha
a gente se acostuma
pior são os estilhaços
um pedaço qualquer de alegria
que fica preso em lugares
de difícil remoção
tem o frio na barriga
tem o nó na garganta
tem uma sensação estranha
no céu da boca
tem o medo
tem o cheiro
tem sua imagem desaparecendo aos poucos
em meio a nuvens de fumaça
cartões de embarque
malas, roletas russas e saltos no escuro
quando olhei no fundo dos teus olhos
percebi que redes de proteção seriam inúteis
e que absolutamente nada poderia ser feito
para impedir que todos meus músculos
entrassem em colapso.